terça-feira, 2 de julho de 2013

No limite

Tomei bronca de rotina. Aquela mesmice safada de sempre, tudo igual todo dia. Aquela irritante sequência acorda + escova os dentes + tomar café + tomar banho + mudar de roupa para ir trabalhar + pegar o ônibus + bater o cartão de ponto + bronca do chefe porque você chegou atrasado + relatório disso e daquilo e memorando tal e coisa + pausa para o cafezinho + voltar ao trabalho + hora do almoço com os amigos falsos que nunca gostam de rachar a conta + segundo turno do trabalho + a secretária boazuda que está dormindo com o chefe querendo lhe dar lição de moral + outra pausa para o café (essa com direito à atualização sobre as fofocas mais quentes que andaram acontecendo na última semana) + ufa! finalmente terminando o expediente + bater de novo o cartão de ponto + ônibus de volta com cheiro de suor, catinga e passageiro reclamando da vida + entrar emfim em casa e tomar outro banho e ligar a TV para saber aquilo que você já sabe que vai passar porque todo dia é a mesma coisa, portanto, novela ou futebol ou reality show ou algum babaca metido a comediante querendo fazer piadinha no horário nobre.

Então eu grito.

CHEGAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mas ninguém ouve. Na verdade ouvem, mas deixa pra lá.  Sabe por quê? Por que eles também já não aguentam mais a rotina. Exatamente como eu. A diferença é que eles preferem continuar fingindo que está tudo bem. Eu não. Pra mim já deu. Daqui pra frente a rotina que se foda. Amanhã mesmo peço as contas naquela merda de emprego, mando a secretária do chefe se foder (coisa que, por sinal, ela já faz com o chefe mesmo!), largo o vício do cafezinho que está afetando minhas noites de sono e me livro daquele maldito coreano dono do self-service onde eu almoço todo santo dia. A única palavra que eu conheço do idioma dele é Harakiri e é o que eu gostaria de fazer com ele. Peraí... Tô falando merda. Harakiri é japonês. Putz! Vou ter de mandar ele tomar naquele lugar na minha língua mesmo e olhe lá. Do jeito que ele é burro como uma porta corre o risco de não entender, aí quem vai ficar puto sou eu, porque faço questão que ele entenda.

Antes de mais nada,

Lista obrigatória a ser seguida para mudar minha rotina:

a) Chega de atender telefonemas de atendentes de call center querendo me oferecer algum plano, assinatura, desconto etc. Danem-se! Daqui pra frente quando elas ligarem direi: "Só ouço a sua proposta se a gente marcar um motel ainda hoje".

b) Chega de TV a cabo. As mesmas séries médicas, policiais, cômicas e épicas de sempre com direito a mulheres nuas, palavrões e piadas sem nexo porque o dublador delas aqui no Brasil é um grande filho de uma puta e consegue estragar todas elas na tradução. Além do mais, na Playboy não sei porquê a nudez parece mais verdadeira e eu posso ver as fotos de graça nesses sites ilegais, internacionais e coisa e tais.

c) Receber os vizinhos carinhosamente com a frase "vão se foder e me deixem em paz!". O último que tocou a campainha queria a minha caixa de ferramentas emprestada. Vê se pode! E o dito-cujo até hoje não me devolveu o serrote que eu lhe emprestei faz mais de seis meses. É um desgraçado mesmo! Não. Vizinho agora só se trouxer um cachê ou comissão para eu ouvir o que ele tem a dizer. Do contrário...

d) Ser meu próprio patrão. Vou ouvir o conselho do meu antigo professor de administração da faculdade: "o futuro é dos autônomos, meu jovem", ele disse certa ocasião e eu, burro, não quis lhe dar ouvidos. Antes tarde do que nunca. Como já percebi que sou bom de escrita, oferecerei meus serviços de ghost writer para estudantes universitários sem o menor talento para a língua portuguesa. Faço tudo: tese, dissertação, artigo, monografia, ensaio, o que rolar tô dentro. Se o contrato for bom, faço até em outras línguas.

e) Chega de carro e de cartão de crédito. Já não bastassem todos os impostos que tenho de pagar, ainda ficar ostentando luxos que só me dão despesa. Tô fora! Daqui pra frente tudo à vista e pago adiantado, de preferência.    

Por ora tá bom. Fica como um Top Five. Se eu lembrar de mais algum, incluo como anexo (Quer apostar quanto que a lista de anexos vai ser maior do que a lista original?).

O importante é mandar a rotina pra puta-que-pariu. Não deve ser tão difícil. Não estou falando de um vício em cigarro, drogas, álcool ou sexo. Estou falando de mudar de hábitos. Será que é tão absurdo assim?

Será que essa parada vai me enlouquecer? Será que já me enlouqueceu? 

Meu Deus! Que mundo cão é esse?!

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