quarta-feira, 10 de julho de 2013

Conselho de mãe




"Nunca tenha medo de se apaixonar. Eu tive e olha o que foi que a vida fez comigo."

Ouvi essa frase uma única vez e nunca mais me esqueci dela. Minha mãe. Minha própria mãe. Um senhora distinta, de pouco mais de 70 anos, recém-viúva, pouca instrução. No dia do funeral de meu pai confessou: ele nunca fora o homem de sua vida. Ele foi o homem que a salvou de ser olhada na rua pelos vizinhos como a mulher encalhada, a que ninguém quis. O nome do verdadeiro amor da sua vida era Gérson. Mas não aconteceu. E não aconteceu não por culpa dos pais, que atrapalharam de todas as formas possíveis o relacionamento, ou por ele ser pobre, vagabundo, uma péssima escolha para marido. Não. Não aconteceu por medo dela. Medo de acreditar que poderia ter uma vida ao lado daquele homem. Medo por ter sido criada como a filha única, a queridinha da família, e acreditar que tinha uma dívida de gratidão com os pais para sempre. Medo porque ele quis ir além, construir sua vida em outro lugar, ao lado dela. E ela simplesmente fugiu da responsabilidade, se acovardou, repetiu o mesmo caminho de suas amigas patricinhas que viviam lhe dizendo para se afastar dele, que boa coisa não era. Moral da história: ele fora embora. Com outra. Está casado, dois filhos, empregado numa metalúrgica de renome. E ela? Ela? Ah isso não importa mais. Se teve algo que aprendeu com a vida sofrida foi a não remexer em velhas feridas. Até agora. Porque não queria que o filho cometesse o mesmo erro que ela. "Pegue a Susana e caia fora dessa cidade, meu filho!", ela me disse quase chorando, "antes que ela o destrua."

E não disse mais nada.

Voltou para a cozinha para terminar o almoço. E eu fiquei ali, estático, tentando tomar uma decisão. Só que dessa vez mais perdido do que nunca.


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