quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Vou morrer sem saber o segredo de Vívian


É impressionante como certas mulheres conseguem gostar de um universo que não tem nada de feminino. Veja Vívian, por exemplo. Eu a conheci numa dessas exibições de luta-livre (sabe aqueles antigos Telecatchs, com Hulk Hogan e companhia ltda? Pois então...). Ela gostava da maromba - não que isso signifique que tivesse o corpo marombado. Pelo contrário - e da sensação de poder oferecida pela brutalidade. Mesmo que essa brutalidade fosse uma mera encenação, com corpos saltando no ar, voadoras ensaiadas nos bastidores e uma sucessão de socos e pontapés que de tão ficcionais chegavam a parecer verdadeiros. E massa, extasiasada, uivava de prazer. Com Vívian no meio.

Ela gostou de mim por causa de um colega meu, tatuador, que fazia desenhos sensacionais na pele humana. Eu mesmo quase fiz um em mim, não fosse pelo meu pavor de agulhas. Ou seja, nossa história foi puro conflito de interesse.

Uma pequena lista do mundo segundo Vívian (e, acreditem, era realmente uma mulher):

1) Fumar charuto três vezes ao dia;
2) Assistir UFC na televisão;
3) Na equação músculos X cavalheirismo, a primeira opção sempre vencia;
4) Filmes preferidos: eram sempre westerns e policiais;
5) Esportes: só os radicais tipo Boogie-Jumpie, rafting e outras barras pesadas;
6) Não usava maquiagem (dizia que era coisa de mulherzinha);
7) Nunca a vi de cabelo comprido em 8 semanas de namoro;
8) Para ela, mulher sex symbol era caminhoneira.

Quer que continue? Não, tá bom né?

E, como disse na opção número 7, nosso namoro durou inacreditáveis oito semanas.

Fazer sexo com Vívian era como entrar na arena da morte. Gostava de bater e de apanhar e, se pudesse ser as duas coisas ao mesmo tempo, melhor ainda. Suas coxas volta e meia circundavam minha cabeça numa espécie de chave mortal e, às vezes, ela chegava a gritar "fatality", em referência ao game Mortal Kombat, e eu ficava mudo, estático, mero coadjuvante de toda aquela situação.

Tão incrível quanto fazer sexo com Vívian, foi a maneira como ela sumiu da minha vida. Um belo dia (lembro que era uma sexta-feira) vi uma carta em cima da minha escrivaninha, dizendo que ela partia para o Japão. Isso mesmo que você leu! Que iria fazer um curso de acupuntura ou algo do gênero. E eu, mais uma vez, fiquei ali, sem fala, sem saber se ficava puto ou agradecia a Deus pelo sumiço dessa mulher estranha.

Era gostosa ela, mas estranha!

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