domingo, 18 de agosto de 2013

Heloísa encrenca

Eu sabia que Heloísa seria problema desde o primeiro minuto em que a vi dançando em cima daquela mesa na boate. Ela era o exemplo vivo e encarnado da luxúria e, onde quer que passasse, atraía para si a atenção de todos. Mas de nada adiantou. Quando o coração bate mais forte, já viu! Eu tive que ir me apresentar a ela - bem, na verdade, a amiga dela, Helena, que adiantou o meu lado e devo isso a ela, confesso, até hoje -, contar um repertório sem fim de piadinhas sem graça e cantadas idem, até conseguir o número do seu celular para, então, travar uma nova luta: quando ligar? O que dizer? Estarei sendo repetitivo? Pareço estar desesperado ou encalhado demais? E, quando finalmente, conseguir marcar o primeiro encontro, descobrir que ela é uma pessoa mais simples do que você pensava e você já tinha se preparado para toda a sofisticação possível, mas ela só quer ir ao cinema.

Dois meses de namoro depois, seis transas depois (sim, eu contei), festas, baladas, um mundo de raves depois. E começa o maior problema de todo relacionamento que se preze: você começa a saber demais sobre a outra pessoa. E saber demais sobre Heloísa foi justamente o que me destruiu.

Os ex-namorados que ligavam pra ela em telefonemas maliciosos, as amigas antipáticas que queriam saber tudo sobre o nosso namoro, principalmente como eu era na cama, se valia a pena, se era hora dela dar um toco em mim, dar um tempo, me valorizar mais, os pais de Heloísa, o coronel linha-dura J. Soares e sua mulher esquizofrênica, Mathilde, fazendo todo tipo de comentários negativos. Seu maior desejo: que terminássemos para que ela pudesse arranjar um casamento entre Heloísa e Augusto, o primo almofadinha, mas cheio da grana, filho de pais empresários.

E depois disso tudo, você ainda conhece outras garotas na farra, aquela que passa de shortinho quando você está jogando pelada no aterro do flamengo, ou a da fila do cinema que piscou pra você, ou a do show do Casuarina no Circo Voador, que te deu a maior bola, mas como estava acompanhado não podia tomar nenhuma atitude. E, no fim das contas, quando você anota na sua calculadora mental quantas foram, se dá conta que é hora de dar no pé.

E você, simplesmente, dá no pé.

Adeus, Heloísa, foi um prazer e coisa e tal, mas tá na hora de cada um tomar o seu rumo, não vai dar certo, não vai passar disso, etc, etc, etc...

E aí vem o xeque-mate: fica sabendo que ela já saía com um outro cara além de mim e não tinha o menor  interesse em me contar. Sacanagem.

Resultado: Vocês acham que eu fiz isso? Terminei o namoro da maneira oficial?

Nada.

Eu simplesmente sumi. Outro dia desses a vi saindo de um teatro na Gávea e me escondi atrás de um  caminhão que estava estacionado na rua. Graças a Deus, ela não me viu! Se bem conheço ela, ia ser um quiproquó dos diabos.

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