sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Escrita difícil

Por que é tão difícil 
escrever um poema?
Por que é tão difícil 
encontrar palavras 
onde elas parecem 
à primeira vista 
não existir 
e ainda assim 
continuar procurando-as 
alucinadamente?
Essa tem sido 
a minha vida 
nos últimos anos 
onde eu inicialmente 
havia desistido de tudo 
havia desencantado 
da própria vida.
E ela a vida 
tem a sua culpa 
nesse processo 
pois não fez por onde 
não quis que eu 
me aproximasse dela 
não quis que eu 
a curtisse. 
Ela simplesmente 
transformou tudo 
(leia-se: a minha rotina) 
num jogo chato 
de cartas marcadas 
onde o próprio vencedor 
não tem muito 
o que comemorar. 
Foi então que as palavras 
decidiram entrar 
(quer dizer, fugir) 
da minha vida. 
E eu as perseguindo 
como um cão sem dono 
cão louco 
raivoso 
a uivar para a lua 
e a constelação de Órion
como um ensandecido.
E elas fugindo 
e fugindo 
e fugindo 
perversas 
diabólicas
intensas 
eróticas 
mundanas 
irascíveis 
as palavras.
Por que elas são assim 
tão engimáticas 
tão travessas? 
Por que brincam comigo 
desse jeito 
sem jeito 
esculhambando tudo 
pondo qualquer sentido 
de ponta-cabeça?
Por que são sacanas?
Por que me fazem de bobo 
e mesmo assim as quero 
como nunca quis nada 
em toda a minha vida? 
É... 
Eu devo ter enlouquecido 
de vez. 
É isso. 
Só pode ser isso. 
Será que um dia 
eu chego ao final 
dessa estrada sinuosa? 
Será que um dia 
terei algo para contar 
aos meus filhos e netos? 
Será que um dia 
terei filhos e netos? 
Ou será que 
já é tarde demais? 
Palavras 
perguntas 
tantas palavras 
tantas perguntas 
tudo em excesso 
menos as respostas. 
Onde elas estão? 
Existem respostas? 
Servem para alguma coisa 
as respostas? 
Quando eu descobrir 
eu volto aqui 
e termino essa loucura 
que eu mesmo comecei 
de brincadeira 
e acabou virando 
coisa séria 
contra a minha vontade.

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